(Porque a Revista Época São Paulo não tem espaço do leitor, publico aqui carta que enviei por email à redação).
A edição 67 da Revista Época São Paulo afirma em capa e matéria que "O paulistano" não deixaria o carro em casa. Pergunto aos autores da matéria e ao editor da revista quem é "o paulistano". Fiquei intrigada pois, na página 51, encontra-se a seguinte frase: "É verdade que mais gente anda de ônibus que de carro na cidade". Então, recoloco a questão: quem é o paulistano?
Não há "o paulistano". A cidade é bastante desigual, como vocês podem ler em estudos baseados em dados censitários e na própria pesquisa Origem/Destino do Metrô, utilizada - muito parcialmente - na matéria. Há dezenas de indicadores facilmente disponíveis a jornalistas de calibre como os senhores.
Dessa forma, resta-me desconfiar que "o paulistano" é "o paulistano da Revista Época", que - a revista supõe (ou deseja, dados os anunciantes) - anda de carro e está chateado com a redistribuição do espaço viário em direção ao transporte coletivo.
Não há como fechar a conta da circulação acomodando todos os veículos da frota da cidade. "Atender às necessidades de toda a população" (como colocou Fichmann na p. 51) não equivale a atender de forma satisfatória a todos os veículos. As pessoas não são carros (pasmem.).
O sistema de trânsito é finito e, portanto, o espaço é disputado. A solução é fazer mais pessoas viajarem em menos veículos. Não que a matéria tenha me convencido que tinha como objetivo propor soluções integrais; pelo contrário, ficou claro que a preocupação da revista é com o usuário de automóvel, supostamente o seu paulistano.
Carolina Requena
Mestranda no Departamento de Ciência Política da USP